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Entrevistas

Programa de Exposições 2017: Bruno Ferreira

A exposição Dioramas, de Bruno Ferreira, pretende refletir sobre os esquemas de autojustificação e autovalidação do discurso, sendo eles: a linguagem, o suporte de signos, o ideal de neutralidade e a construção de mitos como meio de manutenção de poder. Tais esquemas representativos são trazidos à tona nos trabalhos através da miniaturização ou esquematização de modelos.

A repetição em escala reduzida de suportes ideológicos, como outdoor, bandeira e reportagem, reitera o esvaziamento da informação que esses meios carregam. Já a plataforma, o muro móvel e o mirante caracterizam-se como lugares vagos. Situados entre a réplica e o objeto real, eles mantêm a escala humana, porém anulam sua utilidade pelo modo que são construídos. Em entrevista ao Centro Cultural São Paulo, Bruno explica um pouco sobre suas instalações para a II Mostra do Programa de Exposições 2017.

 

Como foi o processo de pesquisa para elaboração do trabalho? Por que a escolha pela miniaturização como formato para as criações?

Venho de uma formação cinematográfica e até cheguei a trabalhar um pouco com isso. Mas, depois de um tempo na área, comecei a entender que os meus trabalhos circulam dentro de uma ideia de artes plásticas e não só de cinema. Talvez pela forma de tratar a narrativa, por pensar o modo de execução, da maneira como o vídeo se coloca no espaço.

A partir daí, passei a estudar esculturas, instalações e a produzir alguns trabalhos que atravessassem essas duas linguagens, trazendo elementos do vídeo, que pode ser exibido como modo escultórico, uma espécie de espacialização da imagem.

Diorama significa um modo de apresentação artística, de maneira muito realista, de cenas da vida real, com a finalidade de instruir ou entreter. A cena pode ser uma paisagem, plantas, animais, eventos históricos, etc.

E, pensando nestes esquemas, que sempre me fascinaram desde o começo da minha jornada, surge minha indagação de como a imagem cinematográfica era utilizada na origem da narrativa. No início, utilizava-se muito dessa linguagem como plataforma de conteúdo informativo para, por exemplo, entender de que forma um movimento artístico poderia ser retratado. Isso era exibido em feiras de curiosidade mais do que em cinemas.

Diorama pode ser relacionado com aquilo que era posto para se ver uma paisagem inacessível, tendo muito a ver com instalações também. Não é um objeto imersivo, mas sim a criação de um espaço miniaturizado.

Após a pesquisa epistemológica, passei a investigar o que seria um diorama em nossa época, nossa cidade; o que seria pegar o que nós temos em nosso entorno e trabalhar através da representação. É uma estratégia interessante, pois, através disso, começamos a olhar pra essas coisas de uma outra forma. Através dessa transposição.

 

Você se refere ao projeto como uma tentativa de refletir sobre os esquemas de “autojustificação” e “autovalidação” do discurso. De que modo os trabalhos aqui apresentados exploram esses conceitos?

É importante ressaltar que, durante o processo de construção deste trabalho, algumas coisas se transformaram, algumas coisas caíram, algumas ideias também, pois esta é a lógica do projeto: ter um direcionamento teórico, porém, ao passar para a prática acabamos percebendo a amplitude do projeto. Então, tentei adaptar o discurso ao que o trabalho é. A questão do diorama sempre foi o norte, e eu entendia que era interessante falar o que seria uma estrutura de autojustificação e autovalidação, sendo intrigante entender quais seriam os alicerces que sustentam signos e ideologias que poderiam ser representadas de maneira simbólica. Isso, no primeiro projeto, estava calcado em algumas coisas ligadas à dissecação da publicidade e, no trabalho final, vem como o outdoor e a bandeira, que são, na minha visão, uma forma de entreter e criar uma ideologia a partir daquilo que serve para te distrair, sendo mais um nível de representação simbólica, estando aí pra ocultar o desejo e colocar mais uma barreira entre nós e alguma aproximação mais crítica da realidade.

Em certa medida, a impossibilidade de representação fiel da realidade — seja por meio de objetos artísticos ou não — serve de ponto de partida para a criação do seu trabalho?

Essa é uma pergunta complicada, pois a minha pesquisa teórica fala sobre a questão do real. E acredito que o real não é exatamente isso a que os objetos estão se referindo. Não é como se o aqui fosse a representação e fora daqui fosse o real. Por isso, chamo de diorama e não de representação, pois acho que o que está fora desse círculo também é uma representação.

A proposta é manter uma proporção quase real dos objetos, justamente para que o que  está exposto e o que está fora da exposição possam ser vistos como representações, remetendo a um outro real ainda inacessível, ao qual, se tivéssemos acesso, provavelmente enlouqueceríamos. O real é um abismo, ele acontece só em alguns momentos, em alguns flashes, em algumas fissuras, entre uma representação e uma quebra dela. Talvez, nesse contexto, poderíamos ter acesso ao que é o real, mas não é uma coisa presente.

Entrevista e fotografia: Fernando Netto

 

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